(AVISO: Desde o início da história eu disse que a cada capítulo eu incluiria alguns assuntos e cenas que não são próprios para menores de 18 anos. Não estão proibidos, mas estão avisados. A história é publicada sem intensões, somente por diversão, MAS é melhor me precaver. Espero que gostem!)
(WARNING: Since the beginning of story I said that each chapter I would incluse some subjects and scenes not suitable for under 18. Are not prohibited but are warned. The story is published with no intentions, just for fun, BUT it’s better to avoid me. Enjoy!)
“A verdade é que nunca pensei que isso não passasse de uma
brincadeira, era previsível e essa é a pior parte porque, por mais que eu
tente, não consigo despertar algo forte o suficiente para atuar no cemitério como
todos – exceto a minha mãe – estavam fazendo.”
“Estive de pé ali desde que um homem grisalho e resmungão
cravou a pá pela primeira vez na terra úmida. Era tão irônico estar chovendo...
Os guarda-chuvas unidos as roupas formais, lágrimas, bocas curvadas para baixo
e sobrancelhas piedosas só não superavam o arranjo de flores com uma frase que
só pode ter sido escrita por um ornitorrinco: A juventude horrível, mas só
percebemos essa verdade quando a saudade vem junto”
Kitty hesitou em pousar a mão no ombro de Ingrid que estava
perdida a ponto de só perceber sua presença minutos depois. Desejar pêsames era
uma forma educada de dizer que, dessa vez, as coisas estavam realmente ruins e
não há nada que se possa fazer para que melhorem, então preferiu permanecer em
silêncio.
Muitos dos familiares já estavam em suas casas colocando as
roupas molhadas pela chuva na secadora enquanto pensavam “Pobre rapaz”, “Pobre
Carmen” ou quem sabe até “Não demora a outra filha ir também”, familiares
sempre julgam o máximo que podem.
A mãe de Chaaz fazia o mesmo papel que Kitty, segurava um
guarda-chuva sobre Carmen que sozinha derramava lágrimas maternais mais do que
óbvias. Surpreendeu-se ao sentir alguns
feixes de luz do sol que já estava se pondo e levando a chuva consigo.
Kitty estava sendo escoltada pelo seu pai que a esperava no
portão do cemitério, assegurando que nada de ruim aconteça a sua “princesa”
novamente, Ingrid aproveitou a ausência realeza para descansar um pouco as
pernas e a cabeça, sentada em um banco de cimento estrategicamente escondido
entre as árvores. Perguntava-se quantas irmãs sem irmãos já estiveram ali.
Ouviu passos na grama molhada, mas preferiu continuar
encarando um ponto vazio qualquer para evitar diálogos, tudo que queria era
estar sozinha, mas algo conspirava para que não tivesse essa oportunidade.
Sua expressão estava congelada por falta de ânimo, o que
chegava a ser um ponto positivo da situação, ou poderia estar resmungando o
fato de alguém ter se deslocado para sentar no único banco que não estava
completamente vazio no cemitério.
- Ingrid? – Já era a terceira vez que seu nome era
pronunciado, a primeira vez veio com entonação de surpresa, a segunda um pouco
constrangida e a terceira já levava tom cômico. Por fim, a figura sentada ao
lado de Ingrid decidiu esperar alguns longos segundos na esperança de que não
estivesse a confundindo com outra pessoa.
Assim que o cérebro de Ingrid processou e reconheceu a voz, virou-se
devagar enquanto tentava acreditar do sorriso que via.
- Mark?
- Ingrid! – Pronunciou pela quarta vez, agora completamente
cômico – Caramba! Eu passei o maior aperto da minha vida agora achando que
tinha te confundido, seu cabelo está diferente...
E estava mesmo. Ingrid teve um flash do dia anterior em que
fora arrastada de sua casa (literalmente), até o salão de beleza. Kitty não
havia dito nenhuma palavra além de “Você precisa arrumar o cabelo”, a sentou na
cadeira e fez sinal para que seu cabelereiro fizesse o que achasse necessário. Só aceitou tudo aquilo porque percebeu que
Kitty também estava diferente e porque não conseguia se lembrar da última vez
que mudou o corte de cabelo sozinha.
Enquanto devaneava, Mark constrangia-se um pouco mais pelo
silêncio.
- Ahn... O que faz aqui, Mark? – Encurtou por nervosismo.
- Sabe como é... Um tio meu faleceu, eu nem o conhecia, mas
a minha família não me dá trégua, tive que viajar pra poder estar presente e
dizer que sinto muito. Mas e você? Está bem? O que houve?
Mark era educado o suficiente para fazer esse assunto
parecer normal. Ingrid abriu a boca duas ou três vezes tentando contar a ele
sobre Aron, mas acabou considerando como desnecessário. Abaixou a cabeça
esperando que ele entendesse.
- Vai ficar tudo bem, ok? – E ele havia entendido. Por mais
que sua frase soasse como um clichê, Ingrid não conseguiu segurar os cantos da
boca para que não formassem um sorrido, ainda mais indiscreto depois de sentir
o braço de Mark em seu ombro. Pelo menos havia se recuperado do transe em que
se encontrava desde que viu a lápide de Aron, decidiu então aproveitar o abraço
e o silêncio por algum tempo.
Não se pode negar que um cemitério é um dos lugares mais
calmos que se pode encontrar por aí, Ingrid havia passado mais tempo do que
esperava por lá e agora só queria estar embaixo das cobertas até quando tivesse
vontade.
Seus planos foram massacrados assim que abriu porta e
encontrou a criatura mais falante e agitada que conhecia sentada a beira da
cama.
- Estava transando com algum dos coveiros do cemitério atrás
de alguma cova? Não sabia que gostava desse tipo de coisa. – Kitty preferiu ser
a mesma de sempre a dizer “Oi”, havia passado em casa para pegar uma bolsa com
pijamas, pipoca de microondas e afins, pretendi a se redimir ao seu jeito.
Encontrou Carmen – mãe de Ingrid – na porta, a mesma não disse nada, só
sinalizou para que subisse, estava dislexia a ponto de não perceber que Ingrid
não estava em casa ainda. Kitty esteve ali por cerca de uma hora e meia,
olhando um velho álbum de fotografias da câmera Polaroid que deu de presente
pra Ingrid no seu 15º aniversário.
Ingrid pensou em diversas respostas, mas preferiu continuar
em silêncio. Conhecia Kitty, sabia o que ela estava pretendendo desde que
a levou ao cabeleireiro. Sabia que ela
estava preocupada. A encarou com um meio sorriso que pode ter surgido por
orgulho, alguma delas se renderia cedo ou tarde e pediria desculpas, percebeu
que havia ganhado. Ingrid sempre gostou de ganhar.
- Não vai dizer nada?
- Kitty... Você não tem noções de inconveniência?
- Eu não estou sendo inconveniente! Seria se não tivesse
trago a pipoca.
- Uma noite do pijama? Hoje? Nessa situação?
A chuva havia voltado a cair, Kitty resmungou algumas
palavras em tom inaudível e abaixou a cabeça. Os bastidores das janelas do
quarto tremeram um pouco com o eco das trovoadas, a chuva insistiria até de manhã.
Kitty avançou dois passos e circulou Ingrid com os braços,
era o sinal de bandeira branca. Havia desistido de ser orgulhosa, era idiota
tentar ser em um momento como aquele.
- Não seja estúpida. Você precisa de alguém agora, eu sei
que também quer acabar logo com isso e esclarecer as coisas. Ser orgulhosa
agora não vai adiantar... Aliás, você nem tem motivos pra me odiar tanto,
Ingrid. Foi você que duvidou de mim e não eu que traí (...)
- (...) Por favor, não peço isso só por perceber que você
precisa de mim, eu também preciso muito de você. Não sei mais o que fazer ou
como me sentir. Não se afaste, você é uma irmã pra mim. – As palavras saíram em
tom ameno, mas com certa dificuldade. Pareciam ensaiadas e deviam ser. Kitty se
preparou muito pra desistir. Era difícil, mas ela realmente precisava de Ingrid
e vice e versa.
Ingrid apenas assentiu com a cabeça, fitando o álbum jogado
a cama.
Decidiu que tomaria um merecido banho antes de qualquer
coisa. Enquanto esteve na banheira, xingou todos os palavrões que pode. Em voz
baixa para que ninguém escutasse, mas era certo que, se alguém estivesse por
perto, escutaria os ruídos de tubos de shampoo e afins sendo arremessados as
paredes.
Ingrid se via ferida de alguma forma pela morte de Aron, mas
jamais seria capaz de entender e explicar o que sentia.
Kitty esperou mais alguns bons minutos, verificando seu
celular, a janela, o computador, a janela, seu celular, o computador, a
janela... Completamente entediada e aflita. Era assim que estava passando seus
últimos dias.
Ingrid voltou ao quarto, sentou-se na cama com Kitty e
suspirou profundo duas ou três vezes.
- Então... O que quer fazer na
sua festa do pijama, Katherine?
-
Primeiro você poderia me contar o que aconteceu no cemitério para que demorasse
tanto. Que tal?
-
Ahn... – Ingrid suspirou querendo muito evitar aquela conversa, mas no fundo
queria contar – Eu encontrei uma pessoa e ficamos conversando. Mark.
-
Mark...? – Kitty ponderou um pouco antes de lembrar subtamente de quem e
tratava – Mark! – Berrou – Não, peraí... Isso é sério mesmo? O que ele faz
aqui... ? O que ele fazia em um cemitério?
-
Kitty, parentes de outras pessoas morrem também. E não faça escandalo, é só o
Mark.
- Eu poderia perguntar se você foi grossa e mal educada com
ele... Mas acho que não gastaria esse tempo todo acabando com a raça dele
verbalmente. Ou gastaria? –Debochou.
- O que ser dizer com isso, sua maldita?
- Vai Ingrid, sem enrolação. O que aconteceu?
- Nada além de conversa sobre mortos. – Ingrid não estava
percebendo, mas estava sendo fria quanto a Aron. Talvez ela não estivesse mesmo
sentindo falta de seu irmão que nunca foi próximo ou amigável. Algo triste, mas inegável assim como o que
sentia por Mark.
- Eu sinceramente não entendo porque você o trata diferente
das outras pessoas. Ele é um filho da puta, Ingrid. Sério mesmo.
- Ele é, você é, todo mundo é. Mas isso não apaga o tempo que
estive com ele, infelizmente. Aliás, Kitty, de “filhos da puta” você entende,
né? Afinal de contas... Quem era aquele cara?
Antes que alguma resposta pudesse surgir, um trovão afrouxou
os parafusos das janelas do quarto.
- Ai meu Deus! – Expressou enquanto se arrepiava e levava
uma das mãos a boca. Kitty morria de medo de tempestades, morria mesmo.
- Já entendi porque você veio dormir aqui, bebê chorona.
- ... Será que vai continuar?
Ingrid deu de ombros, como poderia saber? Acabaram desviando
da conversa. Na verdade nenhuma das duas queria falar sobre, isso poderia levar
a falar sobre alguém no qual todos eles estavam preocupados demais para se quer
citar o nome.
Ingrid colocou-se de pé na cama com um suspiro fundo.
Observou Kitty que fitava um ponto fixo qualquer, ainda com medo da chuva.
- O que está fazendo?
- Fique de pé.
Assim que Kitty se levantou reclamando o porquê do pedido, pode sentir até
o cheiro do amaciante do travesseiro que Ingrid depositou em seu rosto. Quase
caiu da cama pelo susto, desequilibrou-se e olhou assustada enquanto procurava
outro travesseiro para revidar.
E revidou mesmo, bateu diversas vezes no traseiro de Ingrid.
Kitty era mais alta, bem mais alta, mas também era extremamente magra, não
tinha força para tal, o que fez Ingrid sorrir com humor, algo que não fazia a
bastante tempo.
A cada segundo divertido e a cada sorriso, Kitty se pegava
imaginando onde Simon estaria agora, como estaria e se tudo isso era justo. O
mesmo para Chaaz, que apareceu no cemitério pela tarde, mas não disse nada.
Todos possuíam uma parcela de culpa em diferentes níveis, mas no fim só um
deles estava pagando por isso.
Cansadas de agir como adolescentes, acabaram vencidas pelo
cansaço. Ingrid ocupava boa parte da cama de solteiro sem se preocupar enquanto
Kitty se encolhia no outro canto, ainda com medo dos trovões que insistiam.
- Ingrid? Está acordada? – Perguntou sussurrando para o caso
dela estar realmente dormindo, ninguém gostava de acordar Ingrid, seu mal humor
não era tolerável nesses momentos.
- Não. – Ironizou.
- ... Você acha que ele está bem?
- Sinceramente? Não.
- Ele vai ficar bem?
- Se está preocupada, deveria fazer alguma coisa. Boa noite,
Kitty.
- Boa noite... Chata.
É claro que Carmen não pode dormir naquela noite, tentou se
confortar com alguns calmantes, mas não funcionaram. Esteve na cozinha o tempo
todo e mal percebeu o tempo passar. Já estava conformada de certa forma, já
vinha se preparando para algo terrível desde que desistiu de disciplinar Aron.
- Mãe? – Ingrid chamou já imaginando que não haveria uma
resposta.
O café esfriava sobre a mesa e Carmen parecia
estar bastante entretida com a fumaça que o mesmo soltava
Os olhos fundos, o rosto marcado pelas mercas das lágrimas,
o cabelo amassado, os lábios secos... Todos os aspectos do luto, mas Ingrid só
conseguiu observar o colar dourado no pescoço de sua mãe. Estava feliz por
vê-lo ali.
Kitty percebeu que o clima na cozinha não estava dos
melhores. Tirou Ingrid de sua linha de pensamentos com um toque no ombro e a
chamou pra subir e trocar de roupa, alegou que tinha algo em mente para fazerem
a tarde.
Como se não bastasse ter que carregar a culpa de ter o
melhor amigo enjaulado quando deveria estar em seu lugar, Chaaz ainda tinha que
trabalhar. A chuva insistiu durante a noite e agora chiava pela manhã.
Ao chegar, estranhou não receber um abraço melado de Dona
Constança que estava ajeitando as cadeiras, dispersa, sem a alegria que
costumava ter.
- Bom dia, Dona Constança... Tudo bem?
- Bom dia, criança. – Respondeu de forma doce, diferente do
que costumava também. Constança estava sempre animada, fazendo piadas e
brincadeiras mas, naquela manhã, seu sorriso pareceu “sincero” – Estou bem,
querido. E você? Está bem?
- Uhum... Por onde começo?
- Chaaz, meu pequeno, eu sinto muito mas hoje você não vai
poder começar...
- O que!?
- É triste ter que tomar essa decisão, mas encontrei alguns
problemas essa manhã... As pessoas são maldosas, Chaaz. Essa cidade é grande,
mas os fatos se dissipam como na minha antiga cidade, lá na zona rural. Sinto
que essa população de cabeça pequena vai deixar de frequentar o Sallon’s pelo
ocorrido de outro dia, minha família tem tradição e, infelizmente, não decidi
isso sozinha. Saiba que se fosse uma decisão só minha, você ficaria aqui
comigo, foi o melhor e mais bonito cowboy que tive.
Chaaz pensou em argumentos, mas nenhum deles chegaria perto
de bater os de Constança. Ela era uma boa mulher afinal... Na verdade Chaaz
sempre soube disso e perder o emprego o fez chegar a um ápice de mau humor não expressado,
inverteu um pouco mais o sorriso que, naturalmente, já era ralo.
- Não faça isso com uma essa pobre senhora... – Constança o
abraçou em uma ação rápida assim que viu a expressão do garoto se desfazer por completo
– Você vai conseguir muitos empregos melhores que esse você é um menino
esperto.
Chaaz não disse mais nada sobre, só se despediu com um “tchau”
que quase não saiu de sua boca.
Saiu do Sallon’s, mas decidiu fazer hora, ir pra casa agora
era sinônimo de morte instantânea por alguém que o chama de “bebê”, mas age bem
rigidamente para ser chamada de carinhosa.
Sentou em um adorno do estabelecimento, uma cela de cavalo
exposta em um cavalete, para beber o seu último pagamento: Uma cerveja. Sentiu
algumas gostas mais grossas no ombro, era a chuva piorando mais uma vez.
- Chester? – A voz o atraiu para fora da imaginação,
justamente quando estava ensaiando mentalmente sobre como contar a sua mãe
sobre a demissão. – O que faz aí na
chuva?
- Ahn... Nem esta chovendo tanto, acabei de
sentar aqui e começou... – Respondeu sem atenção
- Não deveria estar aí, vai pegar um resfriado... Aliás,
você não está no seu horário de serviço? Estou aqui pra uma entrevista de
emprego, pensei que trabalharíamos juntos. Seria ótimo se pudesse me dar umas
dicas de como escapar do uniforme de cowboy... Ou cowgirl.
Chaaz não entendeu todas as frases ditas, estava disperso e
não conseguia tirar uma pergunta da cabeça.
- Desculpa, mas... Eu conheço você?
Não foi a intenção de Chaaz ofendê-la ou coisa do tipo, mas
Lisa não conseguiu disfarçar o quanto a pergunta a deixou sem graça.
-
Ahn... –Ponderou pensando se realmente valia a pena responder – Conhece sim,
sou prima do Simon... Lisa.
- Ahn... Você. – Chaaz não sabia mesmo agir com mulheres,
não era sua culpa mas estava sendo realmente rude. Lembrou-se de ter visto Lisa
em algumas das visitas que fez a Simon, ela estava sempre por lá.
- Bem eu... Vou entrar. Espero que não fique resfriado. – Na
verdade ela esperava que ele ficasse sim, bem resfriado e de cama.
Chaaz finalmente percebeu que havia dito algo errado, mas
nem conseguia lembrar de toda a conversa, estava aflito demais para fazer algo
que considerava difícil: conversar com garotas. Geralmente ficava mais nervoso
quando esta era bonita, por sua sorte Lisa não fazia o seu tipo.
Martha fazia a sua leitura diária, na hora correta, com a
iluminação correta e ao clima agradável com ajuda da lareira. Prestava atenção
nas linhas, mas ouviu o ruído da porta da frente.
Chaaz tinha que passar pela sala, para subir as escadas e ir
para o quarto. Sabia que encontraria sua sistemática mãe ali e por isso seus
passos eram largos e seu pulso um pouco mais acelerado
.
- Sente-se, querido... Está frio. Aproveite que acendi a
lareira. – Intimou de forma clássica.
Chaaz obedeceu e ficou a observá-la, esperando pelo
inevitável. Ela leu mais 10 ou 11 linhas antes de dizer alguma coisa, tudo que
se ouvia era o barulho da chuva na janela e o estalar da lenha. Situação mais
irritante, impossível.
- O que faz em casa, bebê?
- Despedido. – Chaaz perdeu a paciência e decidiu logo
acabar com aquilo. Pensando bem, ele não se considerava mais tão criança e
dependente assim. Alguns acontecimentos recentes o forçaram a amadurecer um
pouco.
Martha fechou o livro com cuidado e o pousou no braço do
sofá, assim que finalmente encarou Chaaz, riu sem humor.
- Eu sabia que isso aconteceria, conheço a família de
Constança a muitos e muitos anos... Sei de seus costumes. – Suspirou.
- Que isso sirva de lição... – E o sermão fora iniciado –
Para que aprenda a andar com pessoas mais dignas, Chaaz. Eu realmente considero
o Simon um filho meu. Vocês cresceram juntos... Mas não na mesma casa! Quero
que você rume pra novos caminhos agora, meu filho, de verdade. Vai arrumar um
novo emprego e um novo núcleo de amizades. Eu sabia que, cedo ou tarde, aconteceria algo
ruim. – Martha não conseguiu segurar e disparou tudo que estava preso a um
tempo – Você acha que eu mereço mesmo escutar aquela baixaria no andar de cima,
Chester? E eu que pensava que Katharine era uma boa menina... Bom, de qualquer
forma eu bem acho que Simon não vai mais querer papo com você, certo?
-... Porque você sempre tira suas conclusões e crê imediatamente
que está certa, mãe? Você não tem ideia do que está acontecendo, ok? Não fale assim
da Katharine... E não me peça pra me afastar dela mais do que já estou, muito
menos do Simon. Se você soubesse o quanto eles
me ajudaram enquanto você estava com a cara enfiada em algum livro,
fingindo que estava tudo bem... Estaria calada agora.
Chaaz nunca, em toda sua vida, havia respondido sua mãe de
tal forma. Agiu como o “homem protetor da casa” desde que seu pai a abandonou por
ser tão simétrica.
- Bebê... – Martha não conseguiu continuar o que estava
planejado. Encurtou a conversa e voltou a atenção para seu livro, ou pelo menos
fingiu que voltou. Sentiu-se um pouco esmagado, o que fez uma lágrima
teimar contra suas pálpebras.
Por fim, Chaaz decidiu subir. Quando imaginou que ela
poderia estar chorando sozinha na sala, quase se arrependeu de ter dito tudo
aquilo... Mas lembrou-se de que não poderia aceitar estar longe das únicas
pessoas que conhecia.
Pegou o celular e rolou a barra de contato cerca de quinze
vezes. O outro lado da linha demorou a atender, quando já havia
retirado o fone do ouvido, pensou ter ouvido um “alô” e voltou subitamente o
aparelho para a orelha.
- Kitty?
- Sim, Chaaz. Sou eu. Está tudo bem?
- Está, eu... Queria saber se aquele combinado está de pé.
- Bem lembrado, estou com a Ingrid. Vou contar a ela, ver o
que ela acha. – Chaaz pode ouvir um “Contar o que, vadia?” do outro lado.
Sentiu saudade de estar com as duas em harmonia.
- Então tudo bem... Boa noite.
- Fica bem, Chaaz. Se se sentir sozinho nos procure, ok?
Foi uma das únicas noites em que dormiu se sentindo bem,
tranquilo consigo mesmo. Ouvir que poderia contar com alguém era o suficiente
para Chaaz, na voz de Kitty era melhor ainda.
O combinado? Bom, o trio não parecia estar muito abalado com
a ida a prisão a ponto de não voltar lá
para uma visita. O problema é que naquela semana não poderiam, os parentes
próximos de Simon as fariam e só era permitido uma pessoa por vez. Na semana
seguinte, lá estavam eles, de manhã bem cedo para que chegassem antes da mãe de
Simon... O que era uma loucura, é claro.
- Muito bem, só um de nós pode entrar lá segundo aquele tio
ali. – Afirmou Ingrid após contornar o vidro que os separava da sala de
visitas.
- Tesoura! – Jogou Ingrid.
- Ahn... Papel! – Chaaz.
- Pedra. – E Kitty.
Decidir aquilo em um jogo como esses não parecia sensato,
mas não havia outro jeito. Apostaram todos juntos, mas em sequência, da
esquerda para a direita. O papel de Chaaz foi cortado pela tesoura de Ingrid
que foi massacrada pela pedra de Kitty. É óbvio que havia sido meio combinado,
mas Kitty não percebeu.
- Merda! – Sussurrou Kitty ao perceber que seria ela a única
a encarar Simon depois de tudo. Depois de uma semana detento por sua causa.
- Oh! Mas que conhecidencia! – Ingrid alfinetou – Vai lá e
confere se ele está bem pra gente, ok?
- Diga que ele não vai ficar por muito tempo, ok? Estaremos
te vendo daqui, não se preocupe. – Finalizou Chaaz.
Assim que entrou, Kitty rodeou o lugar com um giro de olhos,
mas não encontrou outros detentos. Somente um estava sentado em uma mesa perto
das janelas. Era realmente muito cedo para estarem ali. O guarda abriu o portão
que rangeu em eco quando foi fechado.
- Oi. – Sentou-se com um suspiro que parecia ter vindo do
fundo de sua alma. Não conseguiu tirar os olhos de Simon enquanto não reparou
em tudo que estava diferente.
Sua barba não estava feita como sempre – Simon costumava
dizer que parecia um prisioneiro quando barbado, tamanha ironia... -, seu
cabelo desgrenhado e maior do que o que naturalmente costumava deixar. Bonito,
Simon estava bonito aos olhos de Kitty... Mesmo que todos os aspectos
resistissem ao contrário. Havia algo que a fazia achar isso.
- Eaí? – Forçando para parecer irrelevante, Simon fez sua
saudação sem graça.
- Você está bem, Simon? Estamos preocupados com você. –
Kitty parecia um robô ao citar suas frases. Segurava seus joelhos por baixo da
mesa, estavam trêmulos... Maldito jogo de pedra, papel e tesoura.
- Eu me viro em qualquer lugar, pelo menos ainda não
apanhei. Nem rolou nada daquelas outras coisas que costumam fazer com quem
violenta uma garotinha indefesa e ainda agride outra garotinha com uma
garrafada na cara. Ambas loiras aguadas. – A incrível capacidade de Simon fazer
piadas em momentos tensos irritava Kitty, mas não ali, ela o ignorou.
- Trouxe isso pra você. – Kitty retirou um maço de cigarros
amarelos do bolso e colocou sobre a mesa de metal, retirando um no qual pretendia dividir – Deve estar
precisando.
- E estou mesmo... Pode acender pra mim? Fica meio difícil
fazer as coisas com isso nos meus pulsos. – Mostrou o par de algemas.
- Claro.
Kitty riscou o isqueiro várias vezes até conseguir uma
chama. Estava realmente nervosa ou seria culpa da incerteza sobre pode ou não fumar
ali?
- Está tudo bem com a Ingrid e a mãe dela?
- Na medida do possível. Estou tentando ajudar.
- Vocês pararam de se atracar?
- Sim.
Kitty tragou o cigarro de forma que grande parte do mesmo
fosse para dentro de seus pulmões em forma de fumaça. Sempre uma boa forma de
acalmar as pessoas. O entregou as mãos sedentas e algemas de Simon.
- Preciso sair daqui. – Confessou.
- Você vai sair, Simon. Já está quase tudo certo...
- Vou me ferrar da mesma forma em casa, não vou?
- É bem provável que sim... Pelo porte de drogas. O que
estava pensando andando com tudo aquilo?
- Não venha colocar jogar culpa em mim, Katharine.
Kitty debruçou-se na mesa, apoiando a bochecha amassada em
uma das mãos. Suspirou fundo e procurou dentro de si a coragem para, enfim,
retirar todas as dúvidas de Simon.
- Sabe eu... Você está errado sobre algumas coisas. Por mais
que eu tenha te odiado por alguns dias, eu não faria o que você pensa que fiz
(...)
- (...) Eu estava saturada, Simon. Não aguentava mais
algumas pressões psicológicas e elas não vinham só de você... Eu tenho os meus
planos com o futuro e não conseguia te incluir neles. Tenho consideração pela
nossa amizade acima de tudo e não te traí (...)
- (...) Eu não fazia ideia de que o Rupert... O garoto
loiro... Era esse tipo de pessoa, eu não o conheço a muito tempo. Estou
assustada a ponto de não conseguir pisar fora de casa sozinha, não sei se consigo
passar por isso denovo. (...)
- (...) Eu só queria que tudo voltasse a ser como era, sabe?
Nós quatro e aquele boteco da esquina, nessa cidade... Nesse país. Desde que
pediu pra namorar comigo eu soube que um dia estragaríamos tudo. (...)
- (...) Aprecio o que fez pelo Chaaz. Foi uma atitude de bom
amigo... Mesmo que depois que... Depois que... Ok, por isso eu só posso pedir
desculpas mesmo. Não há o que falar.
- Ahn... Simon? Simon! – Kitty havia percebido certo nível
de desatenção vinda de Simon. Estava colocando para fora tudo aquilo que o
orgulho não permitia sair e não recebia respostas... E as expressões que recebia não eram compatíveis.
- Hun? – Simon deu um salto na cadeira, chacoalhando as
algemas, ao perceber que perdeu grande parte da conversa perdido na sua...
Imaginação fértil. – Mas o que diabos...? – Perguntou a si mesmo.
- Você ouviu tudo que eu disse, não ouviu!?
- Ouvi, ouvi sim. Tudo.
- Kitty... Eu não quero saber o que você fez e deixou de
fazer, isso não importa mais. Não tenho rancor, raiva ou nada do tipo, baby.
Relaxa aí... – Simon conseguiu unir algumas frases que ouviu e fez um resumo.
Realmente não se importava com nada, mas o jeito de se expressar foi errado, havia
esquecido de dizer o quanto ele a queria de volta, lembrava-se dos dias em que
estiveram juntos e em harmonia... Foram poucos, mas, para ele, o suficiente
para ter algumas certezas.
- Tempo esgotado, loirinha. – A voz do guarda atrás de Kitty
a assustou, estava imersa a tensão de ter despejado tantas lamúrias e, em
troca, ter ouvido uma frase vaga como aquela. Realmente possuíam uma falha de
comunicação forte, que os separava desde o tempo em que estavam realmente juntos.
Kitty despediu-se sem muitas palavras, levantou rapidamente
e seguiu o guarda nos passos mais largos que pode. Assim que escutou o arraste
da cadeira de Simon no chão, voltou-se para sua direção, agarrando-se nas grades
da divisão sala de visitas. Não estava triste por conseguir a separação que ela
mesma procurou, mas era vago demais pra aceitar sem, pelo menos, um choro
engolido ali mesmo.
- Você acha que eles voltarão a namorar quando o Simon sair,
In? – Chaaz observou a cena, mas não escutou. Estava encostado no vidro, atento
a qualquer movimento sem nem saber o motivo da preocupação.
- É o mínimo que podem fazer por eles mesmos, Chaaz. Se não
voltarem... Sinceramente, serei obrigada a quebrar a cara dos dois.
-
Woooooo! Não acredito que estou terminando um post... Sério. Sim, eu voltei! S.I.C.K voltou! Tudo voltou! Chega de faculdade, estou formada. |o| Prometo não atrasar a segunda temporada, ok? Espero que continuem gostando. Deixem seus comentários, contem-me tudo. Beijo!Estava com saudades!
Woooooo! I can't believe I'm finishing up a post ... Seriously. Yes, I'm back! S.I.C.K back! It's back! Enough university, I finished this. |o| I promise not to delay the second season, ok? I hope you continue enjoying it. Leave your comments, tell me everything. Thank you SO much who read my history in another language, this makes me very happy! Kiss!